muge, muge

A Amélia Muge, essa ilustre desconhecida dos cidadãos portugueses, impressionou-me. Fui pela primeira vez ao auditório do CCB, que estava composto. Havia gente de todas as idades, mas a meia-idade proliferava, talvez acompanhantes desde sempre da carreira da autora,cantora,instrumentista anfitriã daquela noite. 202 canções registadas na SPA, a quem ela não esqueceu os agradecimentos finais, 202 canções de uma vida.
De voz amadurecida não em casca de carvalho ou de cerejeira mas num respirar duradouro na cena musical portuguesa, amélia apresentou-se convicta, acutilante. Nunca a tinha sequer visto e conhecia somente do belo projecto maio,maduro maio com joão afonso e o zé mário branco. Sabia porém que trabalhava e trabalha com vários músicos como Camané, Ana Moura, Mísia e os gigantes Gaiteiros de lisboa. Escreveu-lhes canções e também as interpretou, com a sua plena voz, madura, algo entre fado, tradição portuguesa e linguagem contemporânea, com electrónica e jazz.
O som que a caracteriza passa por um destaque para ritmos alegres, percussões ligeiras electrónica ou acusticamente tocadas, um piano e teclados irreverentes, violoncelo encorpado, trompete e feliscórneo de apontamento e ainda o José Manuel David, que nasceu cego mas não é duro de ouvido, pois toca percussões e sopros "de todas as prateleiras" como se visse o som.
Havia também convidados: Ana Moura e os gaiteiros.
A Ana Moura, senhora por ser bonita e por cantar bem, tem uma voz que se assemelha bastante com a da Muge, talvez uma versão mais doce e jovial do que a autora agora apresenta. Cantou o "fado da procura" que dizia
mas porque é que a gente não se encontra
/ E talvez sem querer não querem lá ver /Sem te procurar te veja passar num fado corrido de procura e achamento.
O momento alto é quando os das gaitas entram e trazem aquele "som do outro mundo" (palavras de muge) com 2 temas, "aqui há gato" e "o fim da picada".
Espaço ainda para o encore, que ela disse já estar à espera, com "taco a taco" e um poema do pessoa, de que passo a palavra:

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

O concerto acaba e a hora não finda. amélia muge vai voltar.


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